O nono mandamento da Bíblia afirma: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êxodo 20:16). Há pelo menos três bases para este mandamento:
1. O valor do nome de uma pessoa
Nossa época é diferente da época bíblica. Nos tempos bíblicos, o significado do nome era sempre levado em conta, porque isso era algo importante. O nome praticamente determinava os rumos da vida de alguém. Todavia, embora nós não estejamos tão preocupados com o significado do nome, devemos certamente estar preocupados em preservar a pessoa. E as pessoas têm nome e sobrenome. Se nós preservamos a reputação de uma pessoa, é claro que assim vamos preservar a memória do nome dessa pessoa.
É o nosso dever sermos verdadeiros em relação a qualquer pessoa, para que o nome e sobrenome dessa pessoa seja preservado de qualquer má lembrança. Muitas vezes, é tão fácil espalhar alguma novidade sobre uma pessoa – fofocas, difamação, calúnias e rumores cruéis, que não apenas prejudicam essa pessoa, mas sua família e a própria igreja.
– “Sabe a Fulana? Ela é tão metida. Sabe que ontem me contaram que…”
– “Vem cá, vou te contar a última! Sabe a Sicrana? Ela estava no centro da cidade no sábado à noite às duas da manhã, e sabe fazendo o quê???…
Conta-se que, certa vez, um homem foi ao encontro de um conhecido filósofo levando-lhe uma informação que julgava de seu interesse:
– Mestre, quero contar-lhe uma coisa a respeito de um amigo seu!
– Espera um momento – disse o filósofo – Antes de contar-me, quero saber se você fez passar essa informação pelas três peneiras.
– Três peneiras? O que é isso?
– Vamos peneirar aquilo que você quer me dizer. A primeira é a peneira da VERDADE. Você tem certeza de que isso que vai me contar é verdade?
– Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
– A segunda peneira é a da BONDADE. O que você vai me contar é algo bom em favor do meu amigo?
Envergonhado, o homem respondeu:
– Devo confessar que não.
– A terceira peneira é a da UTILIDADE. O que você vai me contar é útil?
– Útil? Na verdade, não.
– Então, se o que você vai me contar não é verdadeiro, não é bom, e não é útil, então é melhor que você o guarde só para você.
É a nossa obrigação preservar o nome e a reputação de uma pessoa.
2. O valor da palavra de uma pessoa
Aquilo que nós dizemos, a maneira como nós contamos as coisas, dizem respeito ao valor da nossa palavra. As nossas palavras têm valor. As palavras que nós falamos dizem muito ao nosso respeito. Quando você diz alguma coisa, as pessoas precisam confiar naquilo que você disse. E as pessoas confiam naquilo que você disse na medida em que você é alguém que sempre diz a verdade, alguém que sempre conta as coisas do jeito que elas ocorreram, na medida em que você é alguém que fala quando deve falar e cala quando é necessário calar. Sua palavra tem valor.
3. O valor da própria verdade
A ética situacional nos ensina que a ação num determinado caso depende da situação. Pode-se justificar uma mentira gigantesca, sempre, e quando o motivo for correto. Nós, cristãos, não pensamos assim. Nós, cristãos, entendemos que uma mentira é uma mentira, e não deixa de ser mentira dependendo da situação. E nós pensamos assim porque entendemos que a verdade não deve ser negociada. A verdade não tem valor. A verdade não depende da necessidade.
O sábio Salomão tem um discurso duro. Ele afirma em Provérbios 12:22: “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor”. Uma abominação é algo odioso e revoltante. O apóstolo João afirma categoricamente que aqueles que contam mentiras não entrarão na Nova Jerusalém, não terão a vida eterna (Apocalipse 21:27).
Quer dizer que não posso e não devo ser sincero? Devo ocultar a verdade sobre alguém?
O que está em jogo neste mandamento não é a sinceridade. Porque sinceridade também não significa dizer tudo o que pensamos e sabemos sobre alguém. Sinceridade implica em ser transparente, mas também implica em ser cuidadoso, em ser leal, em não matar a reputação de alguém, em respeitar as pessoas. Devemos ser verdadeiros, e isso não quer dizer sair por aí falando tudo a todos.
O problema com a mentira
A mentira destrói a liberdade e a dignidade das vítimas. A mentira manipula, acua, intimida. A vítima da mentira se sente presa, amarrada pelas circunstâncias que se criaram contra ela. A vítima se sente sem saída.
A mentira danifica a liberdade das pessoas que mentem. Uma mentira conduz à outra, e depois a outra, e depois a outra… O mentiroso precisa passar a vida mentindo para cobrir os buracos que ele mesmo abriu e nos quais ele pode cair a qualquer momento.
A mentira destrói a confiança. Ninguém consegue enganar a todos durante o tempo todo. Chega uma hora que a verdade aparece, e, então, o mentiroso perde a confiança das pessoas. Além do que uma pessoa que mente sempre desconfia dos outros, porque acha que os outros mentem como ela.
A mentira destrói o senso de valor próprio do mentiroso. Quem mente pratica falsidade e hipocrisia, e certamente isso fere o coração do mentiroso, tirando-lhe qualquer senso de amor próprio.
A mentira destrói nossa relação com Deus. O mentiroso não se sente à vontade com Deus, porque afinal Deus é a verdade.
Pessoas verdadeiras
Apocalipse 14:3 menciona um grupo especial: os 144 mil. Não vem ao caso explicar quem são eles; mas uma coisa é clara: uma das razões porque esses 144 mil desfrutarão do favor de Deus é que “não se achou mentira na sua boca” (Apocalipse 14:5). Em outras palavras, são pessoas que praticaram a veracidade.
Você é uma pessoa verdadeira? No fundo, no fundo, todos nós temos uma natureza que tende para a mentira, para o engano; ninguém é melhor do que ninguém. Neste momento, Deus lhe diz: “Minha filha, meu filho, eu tenho para você um lugar especial no meu reino. Mas o meu reino é um lugar onde impera a verdade, porque EU SOU A VERDADE. Por isso, viva de modo verdadeiro, em tudo, até aquele dia em que vou levar você para um lugar de eterna paz. Eu prometo que vou fazer isso. Enquanto esse dia não chegar, conte comigo para vencer suas dificuldades e tentações. Eu estarei com você todos os dias da sua vida. Palavra de quem nunca mente”.
Adolfo Suárez (via Muito Além do Ensino)
Nota: Ellen G. White orientou:
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êxodo 20:16) — Aqui se inclui todo falar que seja falso a respeito de qualquer assunto, toda tentativa ou intuito de enganar nosso próximo. A intenção de enganar é o que constitui a falsidade. Por um relance de olhos, por um movimento da mão, uma expressão do rosto, pode-se dizer falsidade tão eficazmente como por palavras. Todo exagero intencional, toda sugestão ou insinuação calculada a transmitir uma impressão errônea ou desproporcionada, mesmo a declaração de fatos feita de tal maneira que iluda, é falsidade. Este preceito proíbe todo esforço no sentido de prejudicar a reputação de nosso próximo, pela difamação ou suspeitas ruins, pela calúnia ou intrigas. Mesmo a supressão intencional da verdade, pela qual pode resultar o agravo a outrem, é uma violação do nono mandamento" (Patriarcas e Profetas, p. 218).